quarta-feira, 10 de junho de 2009

Emir Sader: Europa à direita, América Latina à esquerda


Foram os europeus que inventaram a expressão “esquerda”, foram eles que nos exportaram seus grandes teóricos, foram sempre eles as referências para as esquerdas de outras regiões do mundo, durante mais de um século e meio. Agora a Europa se torna um bastião da direita, a esquerda européia vive seu momento de maior debilidade desde que o termo foi inventado, enquanto a esquerda se fortalece na América Latina.
Partidos tradicionais de esquerda desfigurados, com tantos deles tendo aplicado rigorosamente políticas neoliberais – como os casos da Espanha, da França, da Inglaterra, da Alemanha, entre tantos outros. Sindicatos muito debilitados, devido às políticas de “flexibilização laboral”, ao desemprego, à exploração chovinista contra os trabalhadores imigrantes. Esquerda radical isolada, dividida. Cenário ideológico dominado pela direita e até mesmo pela extrema direita.Um continente que vive bem, mais distante do que nunca do que vive a periferia, que não quer mudar, que culpa suas vítimas pelos seus problemas – imigração, “terrorismo”. Um continente que preferiu consolidar sua aliança subordinada com os EUA, do que aliar-se à periferia na luta por um mundo melhor.Votam à direita, com hegemonia conservadora, porque são os grandes vencedores da globalização neoliberal, enquanto a América Latina vota à esquerda, porque somos vítimas dessa globalização. Enquanto eles rejeitam a esquerda, a América Latina reivindica e trata de reinventá-la. Enquanto eles rejeitam o marxismo, o pensamento critico latinoamericano busca aplicá-lo criativamente. Enquanto eles reforçam o capitalismo de forma conservadora e autoritária, com políticas duras contra a imigração, países latinoamericanos – como a Bolívia e o Equador – reivindicam a seus imigrantes e elegem representantes seus para suas constituintes e seu sistema política de Estados refundados. Enquanto eles projetam lideres direitistas e autoritários como Sarkozy, Berlusconi, Merkel e se representam neles, a América Latina exibe a imagem dos 5 presidentes latinoamericanos de mão dadas ao alto no Fórum Social Mundial – Evo Morales, Rafael Correa, Lula, Hugo Chavez, Fernando Lugo -, todos outsiders da política tradicional, que começam a construir o “outro mundo possível”.A Europa se transformou em um bastião do conservadorismo no mundo, substituindo a tradicional postura solidária da esquerda no pós-guerra, pelo egoísmo consumista de agora. Promoveu sua integração para se posicionar melhor no mercado mundial, para virar mais ainda um continente fortaleza, fechado sobre si mesmo.Enquanto a América Latina promove processos de integração solidária, que permitem terminar com o analfabetismo na Venezuela e na Bolívia, devolver à visão a quase dois milhões de latinoamericanos, formas as primeiras gerações de médicos pobres – através da Alba. Forma um banco da região - o Banco do Sul -, para financiar nossos próprios projetos. Constitui o Conselho Sulamericano de Defesa, para resolver os conflitos internos dentro da própria região e fortalecer a segurança da região frente às ameaças externas.A eleição e posse recentes de Mauricio Funes, em El Salvador, apenas confirma essa tendência latinoamericano de buscar na esquerda - moderada ou radical - a solução para seus problemas e a vida de superação do neoliberalismo, forjado e exportado do centro do capitalismo para nossos países e assumido por governos aliados do centro do capitalismo. Enquanto a América Latina privilegia a unidade do Sul do mundo, contra o neocolonialismo e a dominação imperial do centro.A Europa se torna uma espécie de museu, congelada, buscando estar de costas para o novo mundo que procuramos construir. Nós, America Latina, um laboratório de experiências de construção desse novo mundo.
Fonte: www.vermelho.org.br

terça-feira, 9 de junho de 2009

Empresas de comunicação cerceiam liberdade de informação

Marco Aurélio Weissheim

A reação das grandes empresas de comunicação do Brasil à iniciativa da Petrobras de criar um blog para disponibilizar para toda a sociedade, diretamente, dados e opiniões da empresa sobre temas relacionados à CPI aprovada no Senado, mostra mais uma vez o caráter autoritário e classista que as caracteriza. Esse caráter aparece resumido na nota divulgada pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidade que congrega os grandes empresários da comunicação e que é presidida por um deles, Júlio César Mesquita, do jornal O Estado de São Paulo. A nota acusa a Petrobras de “cercear a liberdade de imprensa” e de tentar “intimidar jornalistas”. Tudo isso porque a Petrobras decidiu dispobilizar, em tempo real e na íntegra, suas respostas aos veículos de comunicação. E é justamente estas duas características, “tempo real e na íntegra”, que despertaram a ira dos empresários da comunicação. Afinal de contas, a iniciativa afronta o desejo de monopólio da informação e a transformação da informação em uma mercadoria que seria “propriedade” das empresas midiáticas.
Esse fato aparece nitidamente também no editorial publicado hoje pelo jornal O Globo que afirma: “As perguntas, encaminhadas por escrito, são de propriedade do jornalista e do veículo a que ele representa”. Pela lógica desse argumento canhestro, se as perguntas são propriedade do veículo, as respostas também o são. A informação é, portanto, uma propriedade do veículo que se auto-intitula porta-voz dos interesses da sociedade. Cabe perguntar quem conferiu às empresas de comunicação (cujo principal objetivo é o lucro) esse título de representantes da sociedade. O editorial de O Globo invoca a Constituição brasileira. Pois bem, pela Constituição o que confere legitimidade à representação da sociedade é o voto popular. Não consta que tais empresas tenham sido eleitas para tal finalidade. O mais incrível é que o mesmo editorial critica a Petrobrás por “violar o direito da sociedade ser informada, sem limitações”. Leia-se: “viola o direito da sociedade ser informada por nós, empresas de comunicação, sem as limitações estabelecidas por nós”.
Um outro aspecto interessante desse debate aparece na coluna da jornalista Rosane de Oliveira, hoje, no jornal Zero Hora. Ela escreve: “Ao só responder perguntas de jornalistas por meio de um blog, a Petrobras tenta acabar com o produto mais caro para a imprensa livre, a informação exclusiva”.
Há quem acredite que o “produto mais caro para a imprensa livre” é a busca da verdade. Há quem ache também que “informação exclusiva” se obtém através de um trabalho investigativo que vai muito além de enviar perguntas por email e ficar sentado esperando as respostas. E que é muito diferente também de cultivar uma relação viciada com as fontes, exigindo exclusividade em assuntos que são de interesse público. É bem conhecida a prática de muitos colunistas que dizem às suas fontes: só publico se somente eu tiver essa informação”. Mais uma vez aqui o desejo de monopólio mostra suas unhas.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A defesa da Coréia & belicosidade dos EUA



por Workers World
Quem nos Estados Unidos prestar atenção ao noticiário dos meios de comunicação corporativos deve pensar que a República Democrática Popular da Coréia violou o Tratado Abrangente de Proibição de Testes. Certo?

Só que tal tratado não existe.
Uns 180 países assinaram-se, mas apenas 148 o ratificaram. Segundo o sítio web da Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization, "Todos os 44 Estados listados especificamente no Tratado – aqueles com capacidades de tecnologia nuclear no momento das negociações finais do Tratado em 1996 – devem assinar e ratificar antes de o CTBT entrar em vigor". (ctbto.org)
Nove daqueles 44 Estados nucleares não ratificaram tratado, apesar de o terem assinado há uns 13 anos atrás. Portanto, o tratado não está e nunca esteve em vigor.
O governo que mais parece protestar quando um país como a RDPC efetua testes tem sede em Washington. Mas, será que pode imaginar? O Senado dos EUA não ratificou o tratado. De fato, é a recusa de Washington que constitui o principal obstáculo para o tratado CTBT entrar em vigor.
Os EUA testaram as primeiras bombas atômicas do mundo em 1945 e quase imediatamente lançaram duas delas sobre cidades japonesas, matando 220 mil pessoas nos locais e deixando outras 200 mil tão envenenadas pela radioatividade que morreram logo após. Desde aquele tempo até assinarem o tratado em 1996, os EUA testaram 1032 armas nucleares.
Este número de testes com ogivas é maior do que aquele que foi executado por todos os restantes países do mundo em conjunto, do início até o presente.
Assim, como pode o mundo ter qualquer confiança num tratado de proibição de testes nucleares se o país que testou um número tão enormemente desproporcionado de armas não o ratificará?
A RDPC efetuou com êxito dois testes subterrâneos de dispositivos nucleares, um em 2006 e outro em 25 de Maio. Ela não lançou quaisquer bombas sobre ninguém. De fato, as suas tropas nunca combateram em qualquer outro lugar senão a Coréia, e isso para expulsar invasores estrangeiros.
A determinação da RDPC de dedicar recursos substanciais à construção de um dissuasor nuclear reflete a história trágica da Coréia. Primeiro invadida e anexada pelo colonialismo do Japão, a seguir ocupada pelas tropas dos EUA no fim da II Guerra Mundial, a Coréia sofreu terrivelmente com a ascensão do imperialismo no século XX.
Os EUA criaram uma ditadura militar fantoche no Sul, a qual em 1948 declarou-se República da Coréia. Foi só então que as forças revolucionárias, que haviam libertado a parte norte da Coréia das garras de ferro do Japão, responderam declarando a constituição da RDPC, não como um Estado permanente que ratificaria a divisão da Coréia, mas como um reconhecimento da realidade. O objetivo da RDPC e do povo coreano como um todo sempre foi reunificar o país. Dentro de dois anos, contudo, a RDPC estava a combater uma nova guerra contra invasores imperialistas – desta vez centenas de milhares de soldados norte-americanos.
Vários milhões de coreanos, civis e soldados, foram mortos na guerra de 1950-53. Uns 53 mil soldados americanos morreram. Embora a guerra acabasse num cessar-fogo com os dois lados aproximadamente onde estavam no princípio, os ocupantes estado-unidenses da Coréia do Sul recusaram-se a assinar um tratado de paz com a RDPC. E assim as coisas permaneceram desde então, com 30 a 40 mil tropas dos EUA a ocuparem o Sul.
Muitos países – o primeiro deles foram os Estados Unidos – declaram que tinham de ter armas nucleares para a autodefesa. Ninguém tem um direito mais forte a um dissuasor nuclear do que a RDPC, a qual durante mais de meio século enfrentou a ameaça constante de nova agressão da mais poderosamente armada superpotência imperialista.
Se Washington fosse sincera acerca de querer avançar para um mundo livre do nuclear, ela começaria por assinar um tratado de paz com a RDPC, ratificar o CTBT e remover as suas tropas de ocupação da Coréia.

27/Maio/2009
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O original encontra-se em http://www.workers.org/2009/editorials/korea_0604/ Este editorial encontra-se em http://resistir.info/.