terça-feira, 9 de junho de 2009

Empresas de comunicação cerceiam liberdade de informação

Marco Aurélio Weissheim

A reação das grandes empresas de comunicação do Brasil à iniciativa da Petrobras de criar um blog para disponibilizar para toda a sociedade, diretamente, dados e opiniões da empresa sobre temas relacionados à CPI aprovada no Senado, mostra mais uma vez o caráter autoritário e classista que as caracteriza. Esse caráter aparece resumido na nota divulgada pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidade que congrega os grandes empresários da comunicação e que é presidida por um deles, Júlio César Mesquita, do jornal O Estado de São Paulo. A nota acusa a Petrobras de “cercear a liberdade de imprensa” e de tentar “intimidar jornalistas”. Tudo isso porque a Petrobras decidiu dispobilizar, em tempo real e na íntegra, suas respostas aos veículos de comunicação. E é justamente estas duas características, “tempo real e na íntegra”, que despertaram a ira dos empresários da comunicação. Afinal de contas, a iniciativa afronta o desejo de monopólio da informação e a transformação da informação em uma mercadoria que seria “propriedade” das empresas midiáticas.
Esse fato aparece nitidamente também no editorial publicado hoje pelo jornal O Globo que afirma: “As perguntas, encaminhadas por escrito, são de propriedade do jornalista e do veículo a que ele representa”. Pela lógica desse argumento canhestro, se as perguntas são propriedade do veículo, as respostas também o são. A informação é, portanto, uma propriedade do veículo que se auto-intitula porta-voz dos interesses da sociedade. Cabe perguntar quem conferiu às empresas de comunicação (cujo principal objetivo é o lucro) esse título de representantes da sociedade. O editorial de O Globo invoca a Constituição brasileira. Pois bem, pela Constituição o que confere legitimidade à representação da sociedade é o voto popular. Não consta que tais empresas tenham sido eleitas para tal finalidade. O mais incrível é que o mesmo editorial critica a Petrobrás por “violar o direito da sociedade ser informada, sem limitações”. Leia-se: “viola o direito da sociedade ser informada por nós, empresas de comunicação, sem as limitações estabelecidas por nós”.
Um outro aspecto interessante desse debate aparece na coluna da jornalista Rosane de Oliveira, hoje, no jornal Zero Hora. Ela escreve: “Ao só responder perguntas de jornalistas por meio de um blog, a Petrobras tenta acabar com o produto mais caro para a imprensa livre, a informação exclusiva”.
Há quem acredite que o “produto mais caro para a imprensa livre” é a busca da verdade. Há quem ache também que “informação exclusiva” se obtém através de um trabalho investigativo que vai muito além de enviar perguntas por email e ficar sentado esperando as respostas. E que é muito diferente também de cultivar uma relação viciada com as fontes, exigindo exclusividade em assuntos que são de interesse público. É bem conhecida a prática de muitos colunistas que dizem às suas fontes: só publico se somente eu tiver essa informação”. Mais uma vez aqui o desejo de monopólio mostra suas unhas.

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